Posted 7 years ago
By Inês
Potencialização do processo de habilitação, reabilitação e inclusão por meio da d
ança. A dança constitui-se, para nós, em um elemento promotor de inclusão em variados âmbitos sociais, fortalecendo o sujeito com deficiência visual enquanto protagonista de suas ações, a começar pelos movimentos que efetiva. Múltiplas são as possibilidades de uma pessoa, mas não é raro que esta não as perceba e quando encontra-se transversalizada pela categoria da deficiência, as barreiras ganham significativa lente de aumento.
A dança vem fazendo parte do cotidiano da ACIC de maneiras variadas no transcorrer do tempo. Em 2003 iniciamos nosso primeiro contato com o ato de dançar de um modo diferenciado por meio da professora Idamara Freire, que ofertou uma oficina a 13 de nossos usuários. Inicialmente, não tínhamos grande compreensão do que tal atividade poderia proporcionar, mas fomos positivamente surpreendidos quando acompanhamos o desenvolvimento de tantos aspectos por parte daqueles que participaram, quais sejam a percepção de si mesmos no espaço, o entendimento de seu corpo, do que poderiam fazer através dos movimentos, a apropriação de ritmos e equilíbrios diferenciados, bem como a ampliação da segurança e auto-confiança, pois apresentaram-se em público, em um dos auditórios da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC -, onde aconteciam os encontros. Os familiares estiveram presentes e foi-lhes oportunizado presenciar a transposição de limites que são impostos, não pela limitação funcional, ou seja, pela deficiência, mas pelo descrédito no potencial dos sujeitos envolvidos.
Em 2011, fomos contemplados com a contratação, por parte da Fundação Catarinense de Educação Especial, de uma educadora física com especialização em dança e esta profissional trouxe-nos a proposta de desenvolver este trabalho de maneira sistemática dentro do processo de habilitação/reabilitação, o que foi logo aceito pela equipe, visto que já conhecíamos os resultados positivos que tal estratégia traria aos nossos usuários.
Principiamos com a participação de um número restrito de pessoas, sendo estes principalmente jovens, mas percebemos a importância de ampliarmos e atualmente consideramos indispensável abrangermos um maior número de atividades nestes moldes que possam agregar a um número mais expressivo de participantes, incluindo todas as faixas etárias.
A dança, dentro de nossa instituição, tornou-se um caminho para contribuir no sentido de percepção do corpo, seus movimentos, sensações.... Trata-se de um instrumento que potencializa o processo de habilitação/reabilitação/inclusão, desvelando o sujeito que, por sua condição de deficiência visual, apesar de todas as mudanças já vivenciadas, ainda é invisível. Este passa a ser ppercebido, não por suas limitações, mas em virtude de suas possibilidades, transpondo, desta forma, a barreira da incapacidade, expressando-se corporalmente, movimentando-se e protagonizando sua história, sendo ativo no palco da vida.
O corpo é histórico, trazendo consigo muitas marcas e registros, os quais podem ser compreendidos por meio da dança, a qual, com sua harmonia e fluidez, traz à tona um corpo que fala, que tem voz, e que não pode ser mais um objeto, o qual, em várias situações, é "carregado", entendido como algo que não tem grande valor, sendo mudo, por estar "preso" àquilo que falta. “
A pessoa que possui algum tipo de deficiência ao apropriar-se da dança tem oportunidade de explorar seu corpo, com potencialidades, sua estética, reconhecendo-se como sujeito que possui uma identidade própria, pertencente ao mundo como todos os seres que aí estão...”( Kleinubing,2008)
Dançando, a pessoa com deficiência visual "voa", atravessa fronteiras, atingindo um território que não é mais exclusivo daqueles considerados normais.... A dança não é mais privilégio de quem ppossui "corpos perfeitos e padronizados", incluindo a todos, derrubando mitos, qualificando vidas, construindo com seus movimentos a palavra cidadania.
Texto escrito pela Pedagoga Marcilene Aparecida Alberton Ghisi e professora Mara Cordeiro