Dançar!

Dançar... o que é dançar?

Será contar uma história, seguir passos, rituais, usar determinadas roupas, buscar a perfeição que alguém conceituou como ideal?

Talvez, para alguns, seja exatamente isto. Mas, para nós, dançar é muito, muito mais que isso!

Dançar entrelaçar tramas, é soltá-las, é deixar que a singularidade de cada enredo torne-se visível.

Dançar é estar imóvel, sim, imóvel, é comunicar-se por meio de uma piscadela, é dizer o que se pretende mediante a troca de energia, energia que vem dos poros...

Dançar é arrastar-se, é mexer um dedo, uma perna, um braço, as duas pernas, os dois braços, parte do corpo, o corpo inteiro...

Dançar é voar, sair do ninho, cruzar fronteiras, expandir-se, ampliar territórios...

Dançar é libertar-se, sim, libertar-se do impossível, soltar as amarras, movimentar-se em espaços sem limites, é, portanto, perder o contato ccom o óbvio...

Dançar é brincar com o perigo, é gargalhar com o medo, desafiando-o e vencendo-o, é tocar o céu na terra, unir-se aos quatro elementos, ser fogo, ser água, flutuar, apostar, acreditar, ousar...

Dançar é escrever poesia, revirar conceitos, filosofar, viajar...

Dançar é tornar-se visível, é buscar outros palcos, é ir para as ruas, para as praças, é causar estranhamento, é fazer diferente o que parece ser igual...

Dançar é desequilibrar-se e reequilibrar-se, é resgatar-se, reconstruir-se, transformar e transformar-se...

Dançar é explorar, é compartilhar, dialogar, é dizer tudo e... por que não, dizer nada, é ser dialético, ser síntese, tese e antítese...

Dançar é fantasiar, é viver o sonho, é ser leve e pesado, é ser contraditório, é permitir que a essência se espalhe...

Ahahahahah! Dançar? Dançar é ser bruxa e ser fada... É ser herói e ser vilão...

Dançar é procurar jardins, desfilar por passarelas, passarelas com flores e sem elas...

Dançar é abraçar-se, é abraçar o outro, é distribuir flores, buscando o compartilhamento de sentimentos de paz.

Dançar é abrir janelas... Que janelas? As janelas de nossos corações, de nossas emoções, de nossas mentes, de nossas almas...

Dançar é quebrar vidraças... Sim, quebrar vidraças, as vidraças das molduras que nos sufocam, que nos aprisionam, que nos imobilizam, que nos amordaçam...

Dançar, sim, é quebrar vidraças, as vidraças do preconceito, da intolerância, da hipocrisia...

Dançar é buscar a humanidade dentro de cada um de nós, é desafiar e desafiar-se...

Dançar é, sempre, uma forma de estar no mundo, uma maneira de mostrar quem somos... completos, incompletos, perfeitos, imperfeitos, singulares, dançarinos que bailam em todos os palcos da vida.

Texto escrito por Marcilene Aparecida Alberton Ghisi